Poema da saudade


No silêncio da noite calada
Minha alma vaga em direção aos teus sonhos
A deriva estou, em teu mar
A lua entra por entre frestas, me provoca
Meu ventre pulsa entre minha pernas
Mas o calor do meu corpo esfria com a sua ausência
Dentro de mim sou escura sem a luz da tua estrela
Sou fria sem o calor das tuas mãos
Nesta cama vazia... de você

Silêncio sincronizado e acorrentado
Meus sonhos repletos da sua presença inevitável
Navego na existência onde você é o mar
A luz que queima na pele é o desejo guardado
Meu peito ecoa em resposta ao chamado 
Mas frio me deito na escuridão compartilhada
Lá dentro, a luz eterna dos teus olhos brilha alta
Meu calor indelével e latente procura 
No desejo infinito da minha cama...você falta

Caminho pela planície das minhas memórias
Onde o seu olhar é amor em córrego
E seu corpo é correnteza de paixão
E enquanto a cidade dorme,
Para a madrugada eu conto meus mistérios
Sinto-me só, mas quando aparece meus mistérios são teus
Minha lancinante e triste madrugada,
Sofre comigo a minha sina
E quando o luar sobe bem alto
Muitos ouvem o meu uivo
Mas só você sabe decifrar...

Habita na minha alma a doçura
No teu peito, as montanhas do meu território
O vento do teu sopro me cega
Sem os nossos corpos, templos de paixão
No meio da noite que sempre acordo
Num murmúrio de desejo te quero
Sem segredos te procuro em vão
Sozinho na noite que me lembro
Somente lá dentro a presença
Quando ouço você chamando meu nome
Numa língua que é só nossa...

Pelo vazio, o silêncio ecoa gota a gota
Numa tortura de saudade atroz
Sou barco à deriva num oceano de saudades
Em meu canto, invoco seus ossos
Grito amordaçado na garganta
Pelas notas do meu hino
A imensidão da sua alma encontra o vazio da minha
Nossos lábios se falam, calando as palavras
Me cobre com seu manto
E me faz sua para sempre

Lembrança líquida caindo sobre a face
De encontro à boca o amargo sal da ausência
Tempero da fome e do silêncio 
O vácuo ensurdecedor e a violência
Negro o céu sem estrela guia
Perdido na vastidão do deserto permanente
O grito da alma, o ronco da fome
Esqueleto caminha inerte sem rumo
Ossos ressecados nunca chegam ao destino
Ausência da carne
Sulcos largos sob os olhos
Tão imensos quanto a lua
Engano, erro, do pó à vida
Alegria da pretensão destruída
Sonho de sangue
Semente oculta germina
Você volta

Desperto do sono ilusório
Visto a pele gasta de promessas quentes
E junto os ossos dos restos do que um dia eu quis ser
Te vejo
Te enxergo
A tua estrada é a minha e nela caminharemos juntos
Nem um passo à frente, nem atrás
Enquanto houver estrada, haverá você e eu
Até a eternidade ou mais...

Depois da caminhada solitária interrompida
Pela encruzilhada dos sonhos espelhados
Eu despido de mim mesmo
Novas nuvens chovem em minha nudez
As gotas que molham já não salgam a face
Os pés calejados pela jornada que agora encontram 
No destino inexorável e irreconhecível
Imprevisível chegada de todo inesperada
Ao lugar que nunca deixei calar
Movimento circular incalculável
Lado a lado, os dois infinitos
Em órbita permanente e infindável...

(Florence e Dante Winter, 10 de abril de 2019)

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